quinta-feira, 4 de abril de 2013

Última Carta


Decidi não me ver aquela noite.
Cobri todos os espelhos de casa de olhos fechados.
Fechei todos os vidros, as portas e janelas entreabertas.
Arrastei todos os móveis pra fora da sala, o sofá, a TV, a escrivaninha, o tapete... de certo modo não queria nada que lembrasse você.Mas tudo lembrava você.
Então fechei a porta, e percebi como aquela sala era grande.
Só não estava totalmente vazia porque deixei aquela cadeira ali, e o lustre acompanhava logo acima, me aguardando.
Eu fui.
Subi na cadeira. De certo modo achei que seria mais fácil, algo libertador.Poético mesmo sabe ?
Pois é, a verdade é que eu estava morrendo de medo. Coloquei minhas mãos trêmulas sobre a velha corda que me pertenceu quando era pequeno, quando eu brincava e sorria...
Imaginei um colar, e deixei sobreposto no pescoço durante 15 minutos, olhando pro nada, imaginado o tudo que nada foi.
Eu chorei pela primeira vez em três anos, e pela última.
Minhas mãos começaram a apertar o nó da corda. Senti a corda enrolada por inteiro no pescoço.
A cadeira bambeou. 
Caiu causando um eco medonho e sombrio.
Senti a garganta queimar, e instintivamente tentei tirar aquilo de mim. Não queria mais, era um covarde, afinal.
Quanto mais eu lutava pra permanecer, meus braços perdiam força, a visão embaçava, a respiração ficava difícil...
Meu corpo estagnou.
Meus olhos ficaram fixos.
Olhando pro nada, imaginando nada.
Eu fui.
 
 

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