quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ala dos Esquecidos

Ala dos esquecidos.
Dos cansados, doentes de amor.
Ala dos que já acreditaram, com convicção, no belo.
Dos não-correspondidos.
Entre eles, sonhadores caídos, gente que perdeu o riso.
Asas quebradas, corações partidos.
Olhos moídos, alma encharcada. Tão vazia de vida, tão cheia de nada.
Só rastros e lembranças.
A agulha espetada em suas veias lhes dão a falsa impressão de que tudo vai passar.
É a dor amenizada, esquecida, por ora. Alguns não voltam pra casa, se viciam.
Não passam de almas penduradas em suas próprias dores.
E, olhando bem, a gente percebe quem é novo por ali e quem já está acostumado
com isso tudo.
Os novatos sempre choram, alguns gritam, esperneiam. Retalham o corpo.
Costumam ter nos olhos, o mar e o desespero.
Se você quiser saber dos veteranos, olhe em seus olhos. São vazios.
Dizem que, chegando mais perto, se ouve o eco da dor em suas pupílas dilatadas.
Toda madrugada uma leva de pacientes novos chegam até mim.
Pode soar estranho, mas me conforto sobre suas dores. Eles me fazem esquecer da minha.
Os esquecidos são o meu vício. E eu, a saída.

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