sábado, 17 de novembro de 2012

Mulher de Véu



















A mulher de véu ainda dançava. Sem música. Sem pudor. Sem malícia.
A mulher de véu nunca desacreditou na fé, continuou dançando, mesmo sob chuva
e trovoadas doídas.
A mulher sorria sozinha, acompanhada dos ventos solitários de Outono.
Livre, pura.
Como seda, cedeu.
Se deu à brisa, leve como o branco das nuvens, numa dança única.
Violinos, violetas.
Linda como uma melodia.
Como um momento.
Então os homens entraram.
A mulher de véu continuou dançando, como uma pena caindo lentamente ao ar.
Os homens, assustados e sem entender sua dança, atiraram em seus pés.
A mulher de véu não estava mais de pé, mas ainda tinha forças pra admirar o céu.
Os homens arrancaram seus olhos.
A mulher, mesmo no escuro, ainda podia sonhar.
Os homens a corromperam.
A mulher, pela primeira vez, quis chorar. Mas não podia, pois não tinha mais olhos.
Os homens então beberam seu sangue.
A mulher morreu por dentro, então a mataram.
A mulher de véu se juntou as nuvens.
Assim a mulher pôde chorar.
Choveu.

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